Tal como se esperava a dificuldade para segurar o Liverpool ia ser muito maior. Ao contrário do Ajax tem um estilo de jogo mais agressivo que não deixa os adversários respirar. Recupera a bola e vai logo para cima do adversário. Seja com a bola pelo chão, bolas nas costas da defesa, arriscar na jogada individual. O Liverpool não perde tempo com trocas de bola inúteis. Procura rapidamente o golo e de várias formas. Isso desgasta as equipas adversárias. Tanto a nível fisico como mental. Um jogador está a cortar uma bola e não tem tempo de fazer um reset mental para a investida seguinte. Os defesas não sabem se devem encostar num adversário para não o deixar receber entre linhas ou se se deve posicionar para uma bola nas suas costas. E é por estas razões que mesmo jogando em 30 metros não conseguimos evitar que eles tivessem várias oportunidades de golo.
Ainda assim podíamos ter conseguido um resultado melhor porque na segunda parte eles entraram a pensar no jogo do titulo contra o City. Naqueles primeiros 15 a 20 minutos da segunda parte conseguimos encosta-los as cordas. Mas como do outro lado não está um passarinho, Henderson entrou logo para o lugar do Thiago Alcantara e seguraram novamente o jogo.
Para mim é irónico o Benfica ter hoje uma defesa e um trinco que supostamente nos põem a jogar como equipa grande, dada a sua qualidade de passe (estou a falar mais de Vertonghen, Grimaldo e Weigl neste aspeto), e acabamos a jogar como equipa pequena porque lhes falta tudo o resto. Se tentamos pressionar alguma equipa (mesmo do meio da tabela do nosso campeonato), eles conseguem sair a jogar porque têm várias maneiras de o fazer. Metendo bolas nas costas da defesa porque os centrais são ambos lentos, jogo direto para o lado esquerdo porque o homem que lá está (nas poucas vezes que lá está) tem um um metro e meio, ou simplesmente sair a jogar pelo centro do terreno porque o trinco não consegue recuperar uma bola. Assim sempre que tentamos jogar como equipa grande e nos estendemos no campo qualquer equipa nos consegue criar problemas. E assim levamos golos como uma equipa pequena.
Depois olhamos para uma defesa e trinco com André Almeida, Luisão, Jardel, Eliseu e Fejsa (os mais utilizados nessas posições durante os 4 anos do Tetra) e percebemos que com eles conseguíamos jogar largos períodos dos jogos em 30 metros... mas do outro lado do campo. Se tentavam jogar direto, todos na defesa eram fortes no jogo aério. Se tentavam colocar nas costas da defesa tínhamos o Jardel que era dos jogadores mais rápidos e fortes da Liga. Tentavam sair a jogar pelo meio e o Fejsa limpava tudo. Em suma jogávamos como equipa grande. Nem a equipa se desgastava tanto como agora porque jogava grande parte do tempo no meio campo adversário e porque muitas das vezes os jogos eram resolvidos cedo.
Até em termos ofensivos isso se refletia porque recuperávamos mais bolas altas. Os adversários não tinham tempo de fazer o tal reset para a jogada seguinte. Os avançados tinham mais bola e mais confiança para arriscar (vejam a visão do Futre como jogador no artigo em que ele diz que o Benfica precisa de um trinco). A equipa estava mais preocupada em ferir o adversário do que a minimizar o risco de uma perda de bola. Existe uma razão para o Benfica ter tendência de andar a rodar a bola de um lado para o outro ou procurar bolas nas costas das defesas. Não é por acaso que os únicos jogadores da frente que tiveram um rendimento alto nos últimos 2 anos são todos jogadores rápidos e fortes na profundidade (Seferovic, Rafa e Darwin).
É para isto que eu tento abrir os olhos dos Benfiquistas. Podem falar por exemplo de um City mas ignoram 2 aspetos naquela equipa. O primeiro é o custo. Nós nunca vamos ter dinheiro para ir buscar os melhores do mundo nas suas posições e poder fazer aquele tipo de jogo. O segundo é que a maioria daqueles jogadores são no minímo bons em todos os momentos do jogos. Por exemplo o Cancelo é dos melhores laterais do mundo a atacar mas também o é a defender. Maior parte daqueles jogadores podem não ser tão bons defensivamente como são ofensivamente mas ainda assim são mais do que competentes nessas funções. São jogadores completos e é por isso que custam o que custam. Ainda assim não conseguem vencer uma Champions e o Liverpool com metade do dinheiro consegue lutar taco a taco com eles. Já nós temos bons jogadores em alguns momentos do jogo mas que nem ao nível de jogadores em equipas do meio da tabela estão em outros.
É importante que percebam isto no Benfica. Uma equipa não passa a jogar como equipa grande porque os jogadores sabem receber e passar uma bola ou porque são inteligentes. Como se jogadores fortes em termos físicos não o possam ser também. Como se em 2022 a maior parte dos jogadores não tivessem adquirido as noções táticas básicas durante as suas formações. Uma equipa joga como equipa grande quando é melhor que as outras em todos, ou quase todos os momentos do jogo. E para o ser tem de ter jogadores completos ou minimamente competentes em todos esses momentos.
A prova disto que digo está em Weigl. Acaba maior parte dos jogos com uma percentagem de passe imaculada mas depois é constantemente dos jogadores com menos acções defensivas da equipa. Muitas das vezes atrás de extremos e avançados. Ainda no último jogo fez talvez dos melhores jogos no Benfica com a bola no pé. Sempre com passe simples mas desta vez verticais, conseguiu meter a equipa a sair a jogar. Mas depois em termos defensivos foi novamente um pesadelo com o ponto alto no terceiro golo do Liverpool. Passa jogos praticamente sem recuperar qualquer bola e obriga a que outros jogadores em campo tenham de o compensar naquilo em que ele realmente devia ser bom naquela posição.
É por isso que o Benfica no final da época tem de arranjar centrais rápidos e fortes nos duelos, um defesa esquerdo minimamente competente a defender e um trinco que seja forte a recuperar bolas com a equipa subida. Que tenha um raio de acção alargado. Dessa forma podemos voltar a ter o Benfica que domina completamente os jogos. Que reduz as máximo as opções dos adversários para jogar contra nós. É essa a minha visão de equipa grande. Uma equipa que praticamente não dá hipóteses a outras equipas de nos conseguirem contrariar.