Nos tempos que correm crimes como o obtenção ilegal de correspondência privada é algo corriqueiro. Através deste método ficámos por exemplo a saber da famosa cartilha. Alguns comentadores do Benfica receberem informação pertinente para ser levada a discussão nos programas desportivos foi considerado quase como um crime. Do verdadeiro crime da obtenção desses emails ninguém ficou chocado.
Na semana passada apareceu a gravação de uma entrevista de Bruno Carvalho realizada com 15(!!!) jornalistas de vários orgãos de comunicação social. E de entre um punhado de coisas bastante graves ditas na entrevista (umas que apenas dizem respeito aos sportinguistas, mas outras que dizem respeito ao futebol português) apenas se falou da falta de vergonha do individuo que tornou pública a entrevista.
Rato, ratazana, bufo e por aí fora, foram alguns mimos que colegas de profissão brindaram o único rapaz que realmente foi jornalista naquele encontro. Mas o que fez ele para ser tratado desta forma pelos seus colegas? Cometeu um crime? Não. Não foi ético? A isto eu deixo a pergunta. Quem é que tem mais ética? Um jornalista entre 15 que decide exercer a sua profissão e informar as pessoas, ou os 14 que foram lá ser tratados abaixo de cão, que calaram e ainda escreveram o que lhes mandaram?
Já agora, que nome é que se pode dar a um encontro entre jornalistas, um presidente de um clube e o seu director de comunicação em que apenas o que esse presidente quer é que é escrito? Será que podemos chamar isto de uma cartilha para jornalistas? Do Benfica são 5 ou 6 comentadores. Ali estavam 14 "je ne suis pas Charlie", e tendo em conta as reacções posteriores de mais de uma dezena de outros jornalistas contra o único "Charlie" daquele dia, estamos na presença de uma cartilha bem abrangente.
O mais recente caso são os emails trocados entre Pedro Guerra e um tal de Adão Mendes que quase ninguém sabe quem é. Nesses emails parece claro o contexto da conversa. Pedro Guerra parece aconselhar-se com este senhor sobre quais os árbitros que achava que deviam ser mencionados positiva ou negativamente no(s) programa(s) onde estava. Adão Mendes nas respostas disse coisas como:
"Sobre a arbitragem não temos de ser maezinhas (...sem corte...) mas usar a inteligência a nosso favor, criticando sempre, mas propondo soluções e não desabafos."
"Dizem os grandes sábios dos paineis que algo está a mudar. O porto já não manda mas... ainda não compreendem onde está o poder. (...sem corte...) O poder está no trabalho dia a dia, na busca da verdade e da seriedade e isso faz a diferença."
"Hoje quem nos prejudicar sabe que é punido."
"Temos hoje árbitros, que não sendo internacionais têm demonstrado melhores prestações que os internacionais. Entre os quais: (...sem vir directamente para aqui...) Jorge Ferreira, Nuno Almeida, ..."
Até Pedro Guerra nessa conversa em privado diz algo como:
"Se a minha postura e opiniões puderem contribuir, nem que seja de forma pifia, para um clima de paz e harmonia, acho que é este o caminho a seguir."
Parece mentira mas é verdade. Neste emails fala-se maioritariamente no Benfica abordar os árbitros de forma mais contida, elogiando-os e defendendo-os mais em vez de os criticar (quando vínhamos de 2 campeonatos roubados). Isto tudo foi transformado pela comunicação social em algo comparável com o apito dourado. Dizer que alguns árbitros têm tido melhores prestações, enumerando-os, torna-os benfiquistas. Dizer que alguém hoje é punido (ao contrário do que acontecia antigamente) quando prejudica o Benfica é crime. Estamos numa altura em que quando o Benfica não é prejudicado está a ser beneficiado.
Se fosse o presidente do Benfica a vangloriar-se que tinha corrido com o presidente da arbitragem e que tinha colocado alguém a presidir a Liga até se compreendia a suspeição de um apito dourado, mas assim... Eu sei que isto foi o que o presidente do Sporting afirmou naquela entrevista. Mas não se esqueçam que do conteúdo daquela entrevista não é para se falar. Nesse caso só se pode falar do senhor do gravador.
Para ainda dar mais azo a especulações lá apareceu novamente Marco Ferreira em directo num programa. Até parecia preparada a coisa... Este senhor já é um clássico. No ano passado veio dizer, indignado, que Vitor Pereira lhe tinha ligado antes de um jogo do Benfica a desejar-lhe que fizesse uma boa arbitragem para que pudesse ser opção para um clássico. No caso dos vouchers, quando se discutia se o seu valor monetário ultrapassava os limites da lei, lá apareceu ele novamente em directo num programa dizendo que até tinha recebido 2 num jogo porque este tinha sido adiado.
Esta semana lá estava ele com a lição bem estudada outra vez. Entrou logo de rompante a fazer um paralelismo entre emails e ele ter descido de categoria, dando enfâse ao Benfica ter perdido 2 jogos com ele a apitar nessa época. E foi aí que se percebeu a importância que tem um Pedro Guerra. Ia preparado e apenas lhe perguntou que enumerasse os jogos em que teve notas negativas e se algum tinha sido um jogo do Benfica. Bastou isso para ele perder toda a pujança com que tinha entrado no programa.
A quem critica Pedro Guerra eu questiono como é que não percebem a sua importâncias ou de Rui Gomes da Silva nos tempos que correm. Basta ver um dia o programa Play-Off da Sic Noticias para perceber. TODOS, MAS MESMOS TODOS os programas o nome do Sport Lisboa e Benfica sai manchado dali. TODAS as semanas são levantadas suspeições e ditas coisas como verdades absolutas sem qualquer defesa. Basta João Alves não concordar com um lance polémico e é engolido pelos 3, é enxovalhado, maltratado e por vezes mesmo insultado.
Voltando a Marco Ferreira achei curiosa a insistência dele em dizer que se aparecessem emails com criticas a arbitragens suas, ia achar que realmente existia uma ligação. Eu não sou bruxo mas diria que os próximos emails obtidos ilegalmente e que vão ser apresentados num canal pago por contribuintes, vão conter criticas a Marco Ferreira. Se assim for Marco Ferreira é que se calhar deve começar a ser um caso de policia.
P.S. De um antigo comunicado dos super dragões sobre Jorge Ferreira:
Afinal, para além de Pedro Guerra, alguém conhecia Adão Mendes.