A estratégia do Sporting

Durante 3 semanas ouvimos o presidente do Sporting dizer todo o tipo de coisas acerca do Benfica. Quase todos os dias tentou denegrir a nossa imagem chegando inclusive ao ponto de tentar manchar a imagem da maior lenda do futebol português. A questão é porque fez isso Bruno de Carvalho para além do seu lagartismo militante?

Bruno de Carvalho usou esta estratégia por 2 razões. A primeira foi percebida por todos e teve a ver com o condicionamento da arbitragem. A segunda já é mais difícil de entender e espero que no dia de hoje já a tenham percebido no Benfica pois já está em marcha a mesma estratégia para o jogo da Taça.

Bruno de Carvalho e o Sporting quiseram enervar a equipa do Benfica. Quiseram tirar discernimento ao treinador e aos seus jogadores. Quiseram que o Benfica entrasse em campo a ir para cima do deles. E isto porquê?

O Sporting tem como ponto forte o seu meio-campo. Quanto a mim melhor do que Benfica e Porto pois para além de William, Adrien e João Mário serem jogadores de qualidade têm várias dezenas de jogos juntos. No entanto o Sporting não tem desiquilibradores como tem o Benfica e o Porto, principalmente após a saída de Carrilo da equipa. Quando os seus adversários se fecham tem muitas dificuldades em criar situações de golo. Para além disso tem uma defesa medonha que a qualquer momento podem dar golos ao adversário.

O que o Benfica devia ter feito no Domingo era jogar tranquilamente sem arriscar tanto nas saídas para o ataque e no ataque posicional. Esperar pelos momentos certos para desferir os golpes no adversário. Mas o que vimos foi exactamente o contrário. Vimos por exemplo André Almeida à entrada da área tentar uma saída rápida para o contra-ataque arriscando um passe para a zona central que resultou numa recuperação de bola e no primeiro golo do Sporting. Vimos por exemplo no terceiro golo os dois laterais e os dois médios subidos e ser feito um passe arriscado da linha para a zona central. Nova recuperação de bola, os dois centrais do Benfica sozinhos e novo golo. É este tipo de erros que não podemos voltar a cometer. É preciso ter cabeça fria porque como se viu, para além dos golos oferecidos, o Sporting não foi capaz de criar perigo para o Benfica. E por outro lado vimos por exemplo as debilidades da sua defesa patentes no lance de Jimenez ou até de Gaitan numa das penalidades por assinalar.

Que na Luz percebam que foi o ódio e as emoções que nos levaram à derrota e que percebam de uma vez por todas como se deve jogar contra este Sporting. Os russos sabem-no muito bem. Aliás basta ver os videos desses jogos para saber o que fazer. O CSKA em desvantagem na eliminatória da Liga dos Campeões, num jogo que valia mais de 12 milhões de euros, não arriscou um milímetro a jogar em casa. Mesmo depois de sofrer o golo. Bastou-lhe jogar com segurança esperando pelos erros do Sporting que acontecem sempre com frequência.

Ponto da situação

Por onde começar após o desastre de Domingo? Que análise se pode fazer ao momento actual do Benfica? Para já vou falar apenas dos problemas internos mas no futuro não me vou esquecer dos problemas externos ao Benfica.

Vou começar por Rui Vitória. Rui Vitória é o treinador que está a ter a tarefa mais difícil enquanto treinador do Benfica nos últimos anos. Em primeiro lugar chegou numa altura em que está a ser feito um desinvestimento na equipa principal enquanto que os mais directos opositores estão a realizar os maiores investimentos de sempre. Recebeu uma equipa envelhecida a chegar a um fim de ciclo e a precisar de ser renovada. Chegou com a exigência no máximo após os últimos títulos conquistados pelo Benfica. Substituiu um treinador carismático e que tinha batido recordes de longevidade no clube. E por fim chegou após 2 épocas em que o Benfica tem sido bombardeado pelos adversários e pela comunicação social com supostos beneficios de arbitragem, sem que da parte do clube exista uma defesa vincada em relação a essas acusações.

Mas isto também não explica tudo. Rui Vitória perdeu o jogo de ontem logo após a Supertaça. Jesus disse que Rui Vitória tinha jogado como ele queria nesse jogo (apenas com um avançado e Talisca atrás) e Rui Vitória caiu na armadilha e neste jogo decidiu colocar 2 avançados declarados. Para além disso na Quarta-Feira decidiu colocar a carne toda no assador e numa espécie de ensaio geral jogou tal e qual como o iria fazer com o Sporting. O resultado foi derrota em Istambul, jogadores completamente estourados e moral em baixa para este jogo. Existem momentos em que é preciso saber fazer escolhas e em Istambul, tendo nós um balão de oxigénio que nos permitia perder esse jogo sem colocar em causa o apuramento, devíamos ter apostado num misto de segundas com primeiras escolhas. Mesmo perdendo esse jogo a equipa mantinha a moral pois sabia que não tinha jogado na máxima força e em termos fisicos chegavamos bem ao derby. Hoje até parece mentira mas em caso de vitória no derby tínhamos ido para primeiro lugar (se vencêssemos depois o jogo em atraso) e éramos a equipa mais bem posicionada para voltar a sermos campeões.

Mas nem só Rui Vitória fica mal na fotografia. Desde Janeiro da época passada que o Benfica anda coxo no meio-campo. Neste momento para essa posição temos apenas um jogador competente e capaz de realizar uma época inteira ao mais alto nível (Samaris). Fejsa passa mais de 50% das épocas lesionado. André Almeida não possui qualidade técnica para o lugar. Pizzi e Talisca são adaptações e não têm o nervo necessário. A lacuna estava identificada e os sinais já vinham da época passada. Na época passada chegados ao Natal o campeonato estava assim:

Após a saída de Enzo Perez em Janeiro, com os jogos no Dragão, Braga e Nacional já realizados e fora das competições europeias e da Taça de Portugal acabamos assim:

Ou seja. Após a saída de Enzo Perez, Sporting e Porto acabaram por fazer mais pontos do que nós mesmo ainda tendo o desgaste da Liga dos Campeões (por parte do Porto) e da Liga Europa e Taça de Portugal (por parte do Sporting).

Nesta pré-época perdemos ainda Ruben Amorim e César. Falo neste último porque em várias convocatórias já se percebeu que em caso de indisponibilidade de 2 centrais será um dos médios a recuar para central. E como se não bastasse Mukhtar e principalmente Pele que podiam ser bastante úteis foram despachados.

Outra posição enfraquecida é a de extremo. Nos jogos em que perdemos Gaitán ou Salvio na época passada foi sempre sofrível ver Ola Jonh ou Talisca a fazerem esse lugar. No final da época passada perdemos Salvio e veio Carcela. Mas a obsessão pela formação impera neste momento e poucas oportunidades são dadas ao marroquino. Ainda assim na única vez que foi titular, mesmo sendo o melhor da equipa, teve como prémio a ida para a bancada nos 2 jogos seguintes em detrimento de Nuno Santos e Victor Andrade.

Em termos de laterais estamos como na época passada. Semedo tem feito esquecer Maxi e os restantes já lá estavam. André Almeida é que acabou por ser puxado para o meio-campo por falta de homens nessa posição.

Em termos de plantel ainda existem alguns casos estranhos. Para além de Carcela temos Djuricic e Cristante encostados. 2 jogadores que talvez podessem ser úteis mas a quem não foram dadas quaiquer oportunidades.

Cabe a Rui Vitória tentar manter a equipa viva no campeonato até Dezembro e esperar que o regresso de Salvio, a chegada de Cervi e uma contratação de peso para o meio-campo equilibrem este plantel. Para isso e tendo em conta os jogos que vamos ter ainda para a Liga dos Campeões, a deslocação a Alvalade para a Taça, e a Braga para o campeonato, é melhor pensar num esquema alternativo a este 4-4-2 que na maioria dos casos nunca vai resultar nestes jogos. Talvez seja também altura de começar a dar minutos em certos jogos, a jogadores como Carcela, Djuricic ou Cristante. Quem sabe não sai dali alguma(s) surpresa(s).

Quanto aos benfiquistas resta-nos ter paciência e perceber que está em marcha a renovação de uma equipa que se mantinha junta à vários anos (Luisão, Jardel, Maxi, Enzo, Gaitan, Salvio, Lima). Resta-nos perceber que após 8 épocas de forte investimento na equipa principal foi necessário respirar um pouco. Temos de seguir o nosso caminho, melhorando alguns aspectos e preparando uma nova equipa para vários anos.

Quanto aos nossos adversários vão ter de fazer o mesmo mais cedo ou mais tarde. O Porto precisou de 100 milhões em vendas na pré-época e mesmo voltando a investir bastante ficou com um plantel mais fraco e mais envelhecido, mas ainda assim mais caro que o anterior. Quanto ao Sporting não foi por ter ganho no estádio da Luz que os problemas com a Doyen, as dividas a empresários e jogadores e a perda de dinheiro pela eliminação da Liga dos Campeões desapareceram.